Mais um blog inútil.

Janeiro 11, 2008

AIX é para quem ama UNIX – parte i

Filed under: lulz — mirage @ 22:07

Por iniciativa do Dcoder, tomei como desafio a instalação do AIX 1.3, a única versão de AIX que corre em x86 -- mais exactamente, em IBM PS/2 e compatíveis. Para terem ideia, isto saiu em 1988 e teve o último update em 1992. Não há máquina virtual que corra isto (testei em Virtual PC 2004 e 2007, VMware, qemu, bochs, virtualbox...). Teimoso como sou, tirei o fiel P133 de debaixo da cama (apesar de o AIX 1.3 ser para 386 e 486) e vá de o martelar até isto funcionar. Com 32MB RAM, disco IDE de 6GB e placa gráfica Cirrus Logic ISA, rezei para que não houvesse complicações de maior.

Três disquetes depois, lá consigo passar do sítio onde o Virtual PC chegava, e apresenta-me algumas definições que ficam gravadas directamente na NVRAM, como o nome da máquina (usei o default, aixps2), o país, fuso horário e o teclado (nota para os BSDfags: já em 1988 isto suportava teclado português). Depois temos uma espécie de partitioner que apenas permite remover partições "desconhecidas", ie, qualquer coisa que não seja AIX nem MSDOS (sim, isto tem pacotes para interagir com MSDOS). Limpando aquelas partições de Linux, avança para a fase seguinte: verificar bad blocks no disco rígido.

aix_proof.jpg

Esta fase foi inesperadamente problemática porque ele avançava *muito* devagar pelos cilindros, coisa de 1 cilindro a cada 30 segundos. Calculei que demorasse umas boas horas, mas que se lixe, era por uma boa causa e não estava propriamente com pressa. Claro que lá para o cilindro 500 e tal deu um erro qualquer e saiu do installer. Isto foi interessante porque pela primeira vez vi o prompt do AIX, mas de pouco serviu porque não tinha quase comandos nenhuns disponíveis. Menos interessante foi voltar ao installer e vê-lo a iniciar directamente o mesmo bad blocks check em velocidade de caracol -- e não há forma de passar à frente.

aix_bad_blocks.jpg

No dia seguinte, com a cabeça fresca, surge-me a ideia óbvia: ir à BIOS mexer no disco. Entretanto já tinha lido que o AIX não gostava de discos maiores que 2GB; outros diziam 1GB; mas sabia que era esse o caminho a testar. O disco estava em modo LBA, como é normal, mas forcei o modo NORMAL e escolhi manualmente o nº de cilindros, passando-os para 4000, o suficiente para o disco ficar com 1.9GB. Voila, o check percorre os 4000 cylinders num instante e passei à fase seguinte.

EDIT: depois de vários filesystems corrompidos sem explicação, descobri no FAQ no AIX v2 que ele apenas suporta realmente discos de 1GB, e ao tentar aceder acima disso está na realidade a fazer wrap-around. Com esta informação preciosa acabei por reinstalar num disco ainda mais velho e pequeno de 850MB.

aix_install_new.jpg

O installer dá-me a escolher entre instalar um sistema de raíz, ou substituir um actual. Escolho naturalmente a primeira opção e tenho agora a hipótese de escolher o tamanho das partições (que na realidade são slices numa AIX disklabel, vim depois a saber). Os valores default são minúsculos e usei valores dignos de um disco de 850MB, a saber:

/u - 350000 (isto é a home)
/aixps2 - 65536 (valor recomendado, isto é uma espécie de /boot)
/ - 250000
page - 65536 (o "swap" e já nesta altura tinham a rule of thumb de usar o dobro da RAM)
dump - 65536 (outro valor recomendado mas nem sei o que é)
/aixps2/tmp - 100000 (valor recomendado)

aix_partitions.jpg

Pronto, ele cria as partições (e só durante a criação das partições é que dá erros misteriosos caso o tamanho delas seja demasiado grande) e depois pede as disquetes do Base Operating System -- 15 belas disquetes. Depois desta maratona, o sistema está pronto a rebootar, mas ainda não boota do disco, por causa do kernel. O kernel que ele instala é o antigo, que não suporta IDE, e é preciso bootar da disquete (a versão que vem com o PTF0024, o último update) escolhendo depois a opção "run from hard disk". Só depois de fazer updates é que ele arranca sozinho pelo disco. Mas isso já é uma história para outro dia...

aix_end_installation.jpg aix_login.jpg

PS : "Yes, but does it run AIX?"

9 comentários a “AIX é para quem ama UNIX – parte i”

  1. falso diz:

    Man que lindo! Adoro o terminal verde!
    Documento do bufo!

  2. devnull diz:

    Brutal! E com este processo todo ate' eu aprendi algo, que e' como raio trabalhavam os BNCs... :D
    Espero que continues com a saga e ponhas ai uns clientes do mirc a correr

  3. Drune diz:

    man, até me caiu uma lágrima, valeu o esforço em nome do UNIX

  4. Sr. Gomes diz:

    Em grande. Gostei, continua! :)

  5. Drune diz:

    Eh pah, estava aqui a pensar senao podias meter suporte a WPA2 no AIX! Isso tem stack TCP/IP nao tem? entao é facil? :P

  6. [...] Unix e ter mexido um bocadinho de nada em tudo, desde Linux, FreeBSD, OpenBSD, Solaris e AIX 1.3 (kudos pó mirage), nunca tinha instalado nenhum deles (à excepção de [...]

  7. Audy diz:

    Cara como eu consigo o disco do AIX 1.3, adorei a sua explicação.

  8. BlackHat diz:

    Muito legal, adorei. É uma pena que a última versão do AIX só execute nos computadores da própria IBM... Por favor, escreva a parte II!

  9. André diz:

    Olá...estou fazendo um trabalho para a faculdade sobre o AIX e estou precisando muito de material em português além do instalador. Você tem ai?
    É verdade que o AIX só instala em PC da IBM? Se tiver um PC XT, você acha que eu consigo?
    Obrigado.

Leave a Reply for Drune

widgeon
widgeon
widgeon
widgeon